quarta-feira, dezembro 28, 2005

Movimentos no Escuro

Forma:***** Conteudo:****
Ora finalmente José Miguel Silva, nado e criado em Gaia, colheita de 1969, oferece-nos outro livro de poesia de factura soberba, depois de "Ulisses já Não Mora Aqui" (2002). Firmemente ancorado na geração de setenta, a sua escrita poética está capaz de grandes proezas, e a gestão da eloquência e do sentimento é refinada. Não deixa de ser um tímido descontente. Não evita o risco que é todo este livro: poemas escritos "sobre" 45 filmes (e a final Porto-Bayern...). Por ex.: o meu "A Caminho de Idaho" não se reconhece no poema produzido por JMS, mas paciência, são coisas...
Vejamos:

CARTA DE UMA DESCONHECIDA - MAX OPHÜLS (1948)

2.

Feliz é quem percebe a tempo aquilo que ama.
Esse não vai ao engano, não se mete onde não presta,
desconhece o desconsolo de uma carta fora de horas,
quando está já de roupão e chinelos de quarto,
a cabeça uma colónia de fantasmas escarninhos.

Dar ouvidos, insistir, escolher a restrição do amor,
não vejo que outra coisa seja digna de um homem livre.