sexta-feira, abril 21, 2006

The Pickup

Forma:**** Conteúdo:*****
Nadine Gordimer nasceu na África do Sul - Transvaal - em 1923 e ganhou o prémio Nobel da Literatura em 1991. Este livro, cujo título foi traduzido para "O Engate" em Português, é a sua penúltima obra.
E de que trata? Do encontro entre uma jovem sul-africana branca de boas famílias, à deriva, com um imigrante africano muçulmano clandestino. Este encontro nasce dessa mesma deriva (um carro que avariou) e discretamente de o encontro ser ao mesmo tempo físico e estranho. Ela desconhece que Abdu realmente chama-se Ismail. A relação entre os dois acontece entre realidades paralelas, a de um e a de outro, que se tocam na representação de uma deriva em que os dois confluem e sobretudo no teatro onde as palavras sobejam, e o papéis se apuram. E ele é descoberto. E pede-lhe para usar os seus conhecimentos para ser aceite. O que não se consegue. E depois?
Este é um livro nervoso, de estilo rápido, de períodos e palavras que não denunciam os então 78 anos da escritora. E porém nada é explicado, as declarações de princípios são aqui particularmente ausentes. Um e outra são obrigados a começar a fazer um trabalho de convergência entre as suas duas realidades, o desafio especial das diferenças e das distâncias entre culturas, gentes, cabeças, convenções. E eles. Porque ele vai ser expulso do país. E ela... a linha de contacto é no início apenas uma: o sexo. A mais simples. Ela branca, ele negro entre os negros da África do Sul, isto é, um africano não-sulafricano e clandestino. E muçulmano. Impressiona como procuram sempre um e outro fazer "o correcto", e respeitar-se a si e ao outro, e "resolver" as suas expectativas de vida, primeiramente muito diferentes. O contacto com uma cultura estranha, vista aqui discretamente por dentro (uma família muçulmana no meio do deserto), também não é explicitamente enunciado, mas disso falamos ao correr das páginas. Livro que não fala sobre: acontece. "Final surpreendente" dizem mas não concordo: este livro, e estas vidas, e estes temas não se conseguem acabar.
"Nadine Gordimer is, like fellow Nobel laureates Günter Grass and Alexander Solzhenitsyn, a towering figure of world literature and the moral conscience of her nation. She exemplifies a belief, now seemingly forgotten in a literary culture which has been under attack by the ubiquity of the sensational and the superficial, that a writer can be the mouthpiece of a time, a spokesperson for a crusade, and a tireless examiner of moral and psychological truth."
Estilo de difícil acesso, nada se explica, tudo é apreendido ao longo dos capítulos que se vão desenrolando. São estes personagens incapazes de praticar o mal, e esta é, parece-me uma das chaves. Sendo inicialmente "um engate", estas duas pessoas vão aprendendo lentamente, a partir desta circunstância transitória por definição, a viver. E possivelmente uma com a outra.
Magistral, estilo difícil mas...

1 Comentário(s):

Anonymous Anónimo disse...

What a great site »

7:04 da tarde  

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