O Labirinto
A zanga que ainda existe entre Gregos e Turcos tem raízes históricas muito fundas. E a imperícia que a União Europeia tem tido para lidar com esta animosidade, bem como o facto de ambos os países estarem a partilhar a crise europeia de serem governados por governantes escassos de ideias, torna o recente romance de Panos Karzeris "O Labirinto" extremamente actual.
De que trata? No início do séc. XX a Grécia pertencia ao vasto Império Otomano. Havia grandes colónias turcas pela Macedónia grega, pela Trácia (por isso ainda há uma importante minoria turca na Bulgária, logo ali acima). Por outro lado toda a costa turca virada para o mar Egeu estava pejada de cidades... gregas, bem como muitas povoações entrando inclusivé pela Anatólia adentro. Povoações, cidades, com o seu esqueleto grego e o seu bairro turco anexo, habitualmente mais pobre.
De uma destas povoações trata este livro, e da cega retirada de uma companhia de tropa grega, à procura debalde do mar para onde fugir, perdida a guerra com os turcos.
Panos Karzeris é grego, tem 39 anos, e vive no Reino Unido. Este livro escreveu-o directamente em inglês, mas define-se como grego... grego "mitológico". As histórias que conta procura que sejam universais. Talvez isto se aplique ao seu 1º livro "Pequenas Grandes Infâmias". Em "O Labirinto", a história obriga a sermos mais concretos. E mesmo a difícil transição entre o sonho e a realidade que com frequência acontece durante o livro, por ex. graças a um comandante morfinómano e adicto à mitologia não obsta a que este drama é tipicamente "otomano". E o onírico adensa-se quando constatamos que um exército se encontra perdido, e que toda uma povoação grega se descobre, "da noite-para-o-dia" perdida no meio de um mar turco. A pátria tinha-se deslocado para ocidente, um mar tinha-se interposto entre os dois povos.
Livro que lembrará outras escritas menos actuais (latino-americanas?) mas a Anatólia é muito um tema de hoje e este autor um escritor muito bom.
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