Una Mujer en Berlín
Editado pela Anagrama em Espanha, este livro não terá edição portuguesa, senão dele teríamos ouvido falar.
A autora não é conhecida, pois refugia-se no anonimato mais completo. Quem ler o livro, um relato autobiográfico, ou melhor, um diário dos dias imediatamente antes e longamente após a chegada das tropas soviéticas a Berlim, perceberá o porquê.
Li em alguns sites que as mulheres alemãs "perderam duas guerras".
Este livro parece-me um contraponto interessante e extremo ( e irónico...) por exemplo a um "Diário de Anne Frank". A autora é muito alemã. Apesar do cataclismo humano que lhe cai em cima, da fome, e da violência diárias, ela não foge a retrospectivar porque ela, alemã, se encontra naquela situação. E lembra: no período dos comícios, ela e outras amigas iam de festa em festa, adoptando desprendidamente a ideologia da voz que se ouvisse. Viajada e culta, oriunda de uma burguesia desafogada, os seus conhecimentos de russo servem-lhe ora como salvo-conduto, ora são uma maldição. As referências ao Holocausto aparecem só para o fim do texto, e como uma revelação descrente, ou como um murro no estômago a quem quase não tem estômago. A consciência do horror do regime nazi não é certa. O constatar de um desacerto, sim.
Texto duro, certo mas não consensual, irónico, de um realismo difícil de levar até ao fim.
E que termina "bem", como se um filme: com o reaparecer do ex-namorado, perdido já não me lembro em qual das frentes. Não desvendo.
Livro imprescindível, também porque muto bem escrito ao virar da esquina - há 60 anos... A 1ª edição, em 1959, na Alemanha vendeu pouco...
1 Comentário(s):
Entretanto, teve edição portuguesa...
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