Considerações Sobre a Desgraça Árabe
Samir Kassir foi assassinado o ano passado, aos 45 anos de idade - o seu carro explodiu em Beirut.
Jornalista conhecido e intelectual da oposição libanesa, parte importante da chamada "Revolução dos Cedros" que levou à retirada das forças militares sírias do Líbano, seria uma pessoa incómoda. Entre outras coisas por ser uma pessoa laica e assumir-lo, coisa difícil de ser e fazer no Médio-Oriente.
Este pequeno ensaio (138 pp.) responde em jacto e apaixonadamente - mas com muita sabedoria - a vários quesitos, a saber:
"1. Onde se vê que os árabes são hoje os seres mais infelizes do mundo, mesmo que não o reconheçam
2. Onde se vê que a desgraça é a mais bem partilhada de todas as coisas do mundo árabe
3. Onde se vê que a desgraça árabe é um momento de história, e que é maior hoje do que ontem
4. Onde se vê que a modernidade não foi o momento da desgraça
5. Onde se vê que a desgraça não é o resultado da modernidade, mas sim do seu fracasso
6. Onde se vê que a desgraça dos árabes está na sua geografia, mais do que na sua história
7. Onde se vê que a maior desgraça dos árabes está na recusa de sair dela mas que, à falta de vislumbrar a felicidade, o equilíbrio é possível"
Publicado em França e no Líbano em 2004, este livrinho dialoga não para fora mas sim para dentro, com a própria "Arabolândia", enquistada nas suas perdas e agravos. Obriga portanto a conhecimentos de história e de enquadramento sociológico às vezes não comuns no Ocidente, malgré nous. Trata-se de um livro que pede outras leituras, que podem acontecer antes ou depois.
Pelos títulos dos capítulos percebe-se o entusiasmo provocatório, o pretender desmantelar do "ogre modernista", a ambição de "mudar" alguma coisa, falando sem medos "sobre tudo". O autor é impiedoso no que diz respeito à situação política dos diversos países árabes.
"Imaginar o fim da cadeia da desgraça como uma possibilidade imediata seria sem dúvida demasiado ambicioso. As distorções do desenvolvimento árabe agravaram-se demasiado para que possamos pedir a felicidade já. E a persistência da hegemonia ocidental, agravada pela ocupação americana do Iraque e pela supremacia cada vez maior de Israel, não permite postular um despertar árabe rápido. Mas nada, nem a dominação estrangeira, nem os vícios estruturais das economias, e menos ainda a herança da cultura árabe, nos impede de procurar, mau grado as piores condições do presente, a possibilidade de um equilíbrio.
Para o conseguir, são necessárias bastantes condições, e nem todas elas dependem dos árabes. Mas, na impossibilidade de as reunir todas, pode-se sempre forçar o destino, começando por aquela que é a mais urgente, e sem a qual não há salvação possível: que os árabes abandonem o fantasma de um passado inigualável para encararem por fim de frente a sua história real. E, um dia, lhe virem a ser fiéis."
Está de parabéns a editora Livros Cotovia.
1 Comentário(s):
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