O Doente Inglês
Michael Ondatjee é um poeta e prosador canadiano de origem cingalesa que, com este livro, obteve o Booker Prize e ascendeu à galeria dos grandes romancistas da actualidade em lingua inglesa.
Então, o que se passa com este livro para eu não gostar demasiado dele?
O problema não está em ter visto primeiro o filme. O filme, clássico e romântico e Oscar-driven, amaciou algumas arestas do texto e da história. Mas isso agora não interessa.
O problema está em eu ter lido primeiro "O Fantasma de Anil", romance subsequente de Ondatjee imerso na guerra civil do Sri Lanka, e que tem exactamente o mesmo tipo de construção.
A saber: heroína e herói atormentados, fundo de guerra, selvajaria e injustiça, figuras colaterais dúbias, incertas, circunstâncias excepcionais, desencontros imprevistos, muita intercepção multicultural, pelo meio, com gente que nasceu aqui, viveu acolá e agora está "aculi".
A saber: texto rápido, nervoso, entrecortado, metafórico, a roçar um realismo mágico nebulizado com salbutamol. Saltos no tempo e nos lugares, coisas que não se sabem agora e se aprenderão depois - para que as imagens não cansem e a enumeração das vítimas não assuste.
Michael Ondatjee sabe escrever muito bem, e pelo que já li on-line é também um bom poeta. Mas um romance é mais do que isso. Encher trezentas ou quatrocentas páginas de eventos excepcionais e situações de colapso pessoal/mundial/nacional não chega para criar a levitação. O grande romance devolve-nos a possibilidade da existência de Pessoas Maiores, ou de uma Escrita Divina que nos redima.
Como exemplo de uma Grande Escrita tenho Durrell, como pessoa Maior Adriano Imperador, de Yourcenar... ou Athos, de Dumas. Exemplos...
Hana, ou Anil, são mulheres que procuram seguir uma missão, um objectivo, uma missão que lhes escapa, que as ultrapassa, porque estamos em Itália na 2ª Grande Guerra, porque estamos no Sri Lanka em guerra civil.
E mais? Ficando pelo "Doente Inglês", as figuras masculinas parecem-me mal desenhadas. Caravaggio (porquê este nome?) não se percebe. Kip, o sapador sikh, é um estereotipo completo - e a sua saída de cena mal desenhada. Almásy, o "doente inglês", é, na minha opinião mal (re)construido, excedendo-se na paixão a dose, quando o nihilismo e dupla face daquele que foi enquanto figura histórica espião nazi não são adequadamente bem tratados.
Enfim, eu acho que esta coisa de "muita hormona" em ambiente de guerra (que para mim foi em dose dupla...) não me convence...
"O final é estranho, porque era difícil acabar este livro, explicou o autor." Pois...
2 Comentário(s):
Finalmente um livro que tenho!
li este livro e nao percebi muito bem do k se tratava... nao deixa de ser um romance exotico... confesso k o axei um pouco complicado....bj :(
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