quinta-feira, janeiro 31, 2008

D. Afonso Henriques


Coube ao Prof. José Mattoso fazer uma biografia do nosso 1º rei, que estaria destinada a outro historiador, entretanto falecido. Não é por isto que o livro desmerece.
Por contar estava esta história, simples afinal, contada sem píncaros de emoção, paroxismos de originalidade, ou teorias extraordinariamente avulsas.
Os passos que o historiador dá, imerso no mito, na lenda e, muitas vezes quase no nada, procuram ser seguros, e de medida certa. D. Afonso Henriques foi um chefe guerreiro, persistente, ora cauteloso ora violento, que procurou construir-se como rei independente. Nisto contruiu, en passant, um país. José Mattoso explica como, sem estridências, calmamente. Uma história quase leve, com os principais pilares em São Mamede, Coimbra, Leiria, Ourique, Zamora, Santarém e Lisboa, Alcácer e as conquistas no Além-Tejo, até ao anticlímax de Badajoz. Aparentemente cada passo foi urdido, desenhado com uma lógica geográfica, que é hoje a nossa. As Beiras e a Extremadura devem os seus nomes a esses tempos de fronteira guerreira com o infiel. O episódio de Badajoz como 1ª grande crise de um reino recém-nascido que, na prática, é o Rei que tem (e que ali foi preso e por dois meses por Fernando II de Leão), merecia todo um livro, houvesse mais fontes, menos bruma. O Rei não pode voltar a montar a cavalo, pois terá partido uma perna na retirada. Preso o rei, imaginamos com o autor um reino em hiato, até à sua libertação. Viveu ainda 16 anos de reinado seu, em co-regência com o filho, deslocando-se no seu reino inventado de carreta, ou às costas de homens. Assim dito fica menos heróica esta vida, mas fica feito este Homem mais Herói, porque tão humano. Ele fez, e hoje cá estamos. Diz quem sabe que foi um dos livros do ano.

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