Comboio para o Paquistão
Khushwant Singh tem hoje 92 anos mas é ainda a besta negra das letras indianas - não Hindus, pois ele é um Sikh. E é dos poucos grandes escritores do subcontinente a conhecer difusão mundial que não saiu do subcontinente. Aliás, mesmo quando teve a cabeça a prémio por extremistas religiosos de vários quadrantes, ele não saiu, embora estivesse "incógnito" por uns anos.
Escritor de crónicas, editor de jornais, contista, novelista. "Train to Pakistan" viu a luz a 1956, 9 anos após os eventos descritos, e é uma novela que pretende retratar as consequências dos dramas da partição da India - com a criação do Pakistão - em 1947, aquando da saída dos ingleses. Não se sabe quantos muçulmanos, hindus ou sikhs morreram nesse ano - milhões? Trata-se de uma cicatriz cujas consequências perduram até hoje.
Comboio para o Pakistão é do tamanho de uma novela e assim se comporta. Contista imbatível Khushwant Singh talvez tenha tido dúvidas em transformar este tema, este tempo, em algo "maior", o romance que talvez as raízes dos eventos retratados pedisse. Verdade seja dita que tudo aconteceu muito rápido: em 1946 havia uma colónia, em 1948 dois países e um, dois, três milhões de pessoas a menos no crescimento natural da população para aqueles lados, muito grande - coisa quase só para as estatísticas e, claro, para todos que perderam alguém no eufemismo do acontecimento: " The Partition of India".
"Khushwant Singh's Train to Pakistan shall ever be considered one of the most significant chronicles of the horrors that accompanied the partition of India. In this spare and tight narrative, Khushwant Singh selects Mano Majra, a small village near the border, as the place where Hindus, Muslims and Sikhs come to terms with religion based division of a country." Sim, lê-se de um fôlego, atrapalha-nos bastante, retratos há - como o de Hukum Chand, como outros - que ficam. Tem que se ler. Fica-se com a sensação que todos estes comboios, pois que há uns quantos antes e houve outros depois do comboio em questão, pediam o dobro do texto, senão mais.
Grande novela portanto, que deve ser lida e enquadrada nesses tempos fundamentais do pós-colonialismo indiano.
Só uma nota para a capa desta edição portuguesa, intragável. Até a Cavalo de Ferro começa a "achinelar" na moldura dos livros... Por isso as capas que aqui mostro são outras. A outra imagem é de uma edição recente e ilustra o que se passou. Não é preciso explicar o que os abutres andam ali a fazer.
0 Comentário(s):
Enviar um comentário