domingo, junho 15, 2008

Filipe II e Filipe III


Apareceram em edição pública em sequência estes dois livros, o que terá sido bem pensado.
Deve-se dizer porém que os dois textos não se defendem bem nem isoladamente nem quando analizados em conjunto.

Filipe II dedicou pouco tempo a Portugal, e no livro que sobre ele versa nota-se. A autora é Fernanda Olival. Para além da reflexão sobre um país que vivia sem uma corte, a maior parte do tempo estamos a ler detalhes sobre detalhes, quase como um livro de recortes, sobre uma corte alheia, seus requebros e complicações. Percebe-se que Filipe II e o seu valido o Duque de Lerma tentaram ter uma política europeia pacificadora; assume-se que isso foi vantajoso para Portugal. Ganha interesse este livro quando o rei finalmente se dispõe a vir a Portugal celebrar cortes, as quais acontecem em 1619, viagem completamente paga pelas autarquias portuguesas, Lisboa à cabeça, pois a monarquia dos Áustrias já andava exaurida. Cortes celebradas à pressa, de resultado escasso, abreviadas para que rapidamente se voltasse à cabeça de casal - Castela. Não se evitou porém que a entourage da corte vivesse aqui e ali algumas escaramuças com gente portuguesa - o ódio não desvanecia, até pela intempérie que já se vivia em zonas do império. O único compromisso de 1581 que nunca foi cumprido foi a retirada das guarnições castelhanas das principais cidades portuguesas. Na viagem de volta o Rei adoeceu, nunca recuperou por completo, viria a falecer no ano seguinte. Em Portugal tinha sido jurado herdeiro o rapaz que rapidamente se veria como Filipe III, IV de Espanha.

O livro sobre Filipe III tem o interesse de narrar, erraticamente embora, os porquês da Restauração. O autor chama-se António de Oliveira. Terá sido Filipe III homem algo frágil de decisão, demasiado dependente do seu valido, o conde-duque de Olivares. Antes de tempo provavelmente quis este encetar uma política centralizadora das Espanhas, onde se incluia Portugal, de forma a reforçar o protagonismo da corte e do seu governo - ele - perante as autonomias e os foros locais. Por outro lado pretendia-se manter um protagonismo europeu e uma força - vidé a guerra dos 30 anos 1618-1648 - para a qual Espanha visivelmente já não tinha nem homens nem dinheiro. Resultado: a revolta da Catalunha, a independência de Portugal. Não tinha esta Espanha nem metade do peso da de Filipe I, mesmo descontando a incompetência dos seus comandantes, vidé João José de Áustria.
A balança tinha pendido obviamente contra a união: o Império português perdia-se vítima da guerra europeia, os impostos aumentavam, a autonomia e a idiosincrasia portuguesas estavam em perigo. A revolta foi comandada pelo Duque de Bragança, tido em Madrid como o mais fiel dos nobres. Olivares não quis acreditar e chegou a pensar escrever uma carta pedindo esclarecimentos, pois tratar-se-ia de um equívoco, certamente. Por uma vez o rei teve mais sentido e disse a Olivares para se deixar de escritas e preparar um exército, não, dois, pois Espanha partia-se pelos extremos. Catalunha foi recuperada quando a França assim o permitiu. Portugal nunca mais.
O livro lê-se mal e é pena. A intenção de apresentar uma visão diferente do homem, patrono de Velazquez, não acontece. O livro sofre de um discurso entrecortado de intenções e repetitivamente opinativo. É pena.

2 Comentário(s):

Anonymous Anónimo disse...

William.....¿Médico Humanista?

10:51 da manhã  
Blogger manuel cardoso disse...

Posso sugerir, já que se trata de médicos? Um Tiro na Bruma . Da Sopa de Letras. Boas férias!

11:56 da manhã  

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