sexta-feira, maio 16, 2008

Elefanta Suite


Pode ou não ser uma boa regra mas a ficção que confronta duas civilizações, dois mundos, duas construções estranhas, em colisão ou em confluência ou o que lhe queiram chamar, devia ser escrita por alguém da parte mais frágil, da parte que predominantemente perdeu ou foi dominada. Acho. Ora se eu acho isto logo temos aqui um handicap para avaliar as três novelas que compõem o “Elefanta Suite”, último livro de Paul Theroux, americano.
É este escritor “filho espiritual renegado” de V.S.Naipaul. Escreveu um livro onde só fala de como conheceu Naipaul e de como aprendeu a… odiá-lo. Esta ruptura é famosa. Mais bem visto como escritor de semificções de viagens do que outra coisa, estas três novelas tratam de três batalhas, de três colisões entre gente ocidental, anglosaxónica para ser mais preciso, e indianos. Supõe-se que Paul Theroux portanto sabe do que fala. O texto vacila e/ou passeia-se por entre as várias vicissitudes destes relacionamentos. Há sempre nas três novelas um espaço central onde os personagens ocidentais acham ter encontrado um equilíbrio, uma paz e também finalmente entendido o que é a “Índia real” e como podem conviver com ela, nela, aliás preferindo. Engano puro e ledo, uma, duas, três vezes, embora uma, duas, três vezes se possa dizer que os fins não são completamente fechados e unívocos. A narrativa é deconfortável o suficiente para haver alguma dificuldade na adesão, nós, ocidentais, também queremos que estes clashs civilizacionais terminem sempre em bem… mas não, esta globalização que temos é uma coisa em forma de não ser bem assim, e a extrema verosimilhança da trama só arrepia ainda mais…
Três histórias que se lêem sem parar, portanto.
P.S.: lido em espanhol, edição Alfaguara. Em português Paul Theroux é difícil de encontrar...

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