Istambul: Memories and the City
"When the Pamuks move in 1953 from a communal Ottoman mansion to a modern apartment building, we see them work to understand what their increasingly Western way of life will bring, apart from freedom from Islamic law. Against the backdrop of ruined monuments, dilapidated villas, and teeming backstreets and waterways, we observe the cast of artists, journalists, and popular historians who would inform the city's evolving sense of itself. And we share with the daydreaming boy who would become this book's famous author the spectacle of dramas both public and private, the discovery of the great open-air theater that was and is Istanbul"
Pamuk é um turco mais que precisa de se explicar. Ser turco hoje em dia obriga aparentemente a uma explicação. Se calhar qualquer nacionalidade assumida também obrigará a essa mesma explicação, necessidade que por defeito a maior parte dos “nacionais” não sentirá. Pamuk sente. E exprime esta obrigação mais que em nenhum outro livro prévio neste que eu me dei ao difícil trabalho de ler em tradução inglesa, e que já existe em versão portuguesa. “Istanbul” é um extenso monólogo sobre uma cidade e o crescer de uma criança nela, até se fazer homem e se decidir pela escrita (spoiler…). Cidade onde se afundou um Império e se fundou um país “quase como do nada”, imediatamente por cima (ou por baixo) de um só homem – Mustapha Kemal, Ataturk. Pamuk relembra a velha cidade otomana poliglota e explica a actual cidade quase-ocidental, construída à pressa, educada para a civilização através de mil-e-um mandamentos, recomendações e preceitos. Havia um objectivo “colectivo”, uma espécie de “go west” emocional de determinada camada da população turca, devidamente enquadrada pelo exército, herdeiro do ímpeto fundador de Ataturk. Pamuk porém não esquece de delinear bem as várias camadas da sociedade turca, de Istambul, os bairros, as posses, as opções, as políticas. Define a melancolia da cidade o “huzun” como o rasto histórico vivido dentro de cada pessoa de uma cidade que já foi a Sublime Porta, a cabeça do Império, e agora é só mais uma cidade sumida entre megasubúrbios, às cavalitas entre dois continentes. E isto sobrevoa o crescimento de uma criança que é Orham, o 2º filho de uma família abastada mas em trajectória descendente através dos bairros de Istambul. Este longo livro circula através dos meandros da geografia espacial e temporal de Istambul… compreensivamente. Recomendo tempo, e a fruição de alguns capítulos pode ser interpolada, deixada até para depois. Este livro não pede pressas. Nele Pamuk consegue dois feitos: a explicação da sua génese como escritor, quase pueril, e a devolução a Istambul de A Grande Cidade, o umbigo do mundo, a linha de intersecção entre dois mundos que agora infelizmente cada vez mais se separam em vez de se unirem, e aí a tragédia do Bósforo, afinal a água que separa dois olhares hoje quae opostos.
"You can often tell whether you’re standing in the East or in the West, just by the way people refer to certain historical events. For Westerners, 29 May 1453 is the fall of Constantinople, while for Easterners, it’s the conquest of Istambul. Years later, when my wife was studying at Columbia University, she used the word “conquest” in an exam and her American professor accused her of “nationalism”. In fact, she’d used the word only because of having been taught to use it as a Turkish lycée student; because her mother was of Russian extraction, it could be said that her sympathies were more with the Ortodox Christians. Or perhaps she saw it as neither as a “fall” or a “conquest” and felt more like an unlucky hostage caught between two worlds that offered no choice but to be Muslim or Christian.
(…)
It was, however, three years later that the Turkish state deliberately provoked what you might call ‘conquest fever’ by allowing mobs to rampage through the city, plundering the property of greeks and other minorities. A number of churches were destroyed during the riots, and a number of priests were murdered, so there are many echoes of the cruelties Western historians describe in accouns of the ‘fall’ of Constaninople. In fact, both the Turkysh and the Greek states have been guilty of treating their respective minorities as hostages of geopolitics, and that is why more Greeks hve left Istanbul over the past fifty years than in the fifty years following 1453."
PS.: o livro (nesta edição, espero que nas outras também) tem uma mais-valia enorme nas dezenas de fotografias que o acompanham, uma pequena parte sobre o jovem Pamuk e a sua família, o resto sobre o Istambul antigo - todo um catálogo a não perder.
Pamuk é um turco mais que precisa de se explicar. Ser turco hoje em dia obriga aparentemente a uma explicação. Se calhar qualquer nacionalidade assumida também obrigará a essa mesma explicação, necessidade que por defeito a maior parte dos “nacionais” não sentirá. Pamuk sente. E exprime esta obrigação mais que em nenhum outro livro prévio neste que eu me dei ao difícil trabalho de ler em tradução inglesa, e que já existe em versão portuguesa. “Istanbul” é um extenso monólogo sobre uma cidade e o crescer de uma criança nela, até se fazer homem e se decidir pela escrita (spoiler…). Cidade onde se afundou um Império e se fundou um país “quase como do nada”, imediatamente por cima (ou por baixo) de um só homem – Mustapha Kemal, Ataturk. Pamuk relembra a velha cidade otomana poliglota e explica a actual cidade quase-ocidental, construída à pressa, educada para a civilização através de mil-e-um mandamentos, recomendações e preceitos. Havia um objectivo “colectivo”, uma espécie de “go west” emocional de determinada camada da população turca, devidamente enquadrada pelo exército, herdeiro do ímpeto fundador de Ataturk. Pamuk porém não esquece de delinear bem as várias camadas da sociedade turca, de Istambul, os bairros, as posses, as opções, as políticas. Define a melancolia da cidade o “huzun” como o rasto histórico vivido dentro de cada pessoa de uma cidade que já foi a Sublime Porta, a cabeça do Império, e agora é só mais uma cidade sumida entre megasubúrbios, às cavalitas entre dois continentes. E isto sobrevoa o crescimento de uma criança que é Orham, o 2º filho de uma família abastada mas em trajectória descendente através dos bairros de Istambul. Este longo livro circula através dos meandros da geografia espacial e temporal de Istambul… compreensivamente. Recomendo tempo, e a fruição de alguns capítulos pode ser interpolada, deixada até para depois. Este livro não pede pressas. Nele Pamuk consegue dois feitos: a explicação da sua génese como escritor, quase pueril, e a devolução a Istambul de A Grande Cidade, o umbigo do mundo, a linha de intersecção entre dois mundos que agora infelizmente cada vez mais se separam em vez de se unirem, e aí a tragédia do Bósforo, afinal a água que separa dois olhares hoje quae opostos.
"You can often tell whether you’re standing in the East or in the West, just by the way people refer to certain historical events. For Westerners, 29 May 1453 is the fall of Constantinople, while for Easterners, it’s the conquest of Istambul. Years later, when my wife was studying at Columbia University, she used the word “conquest” in an exam and her American professor accused her of “nationalism”. In fact, she’d used the word only because of having been taught to use it as a Turkish lycée student; because her mother was of Russian extraction, it could be said that her sympathies were more with the Ortodox Christians. Or perhaps she saw it as neither as a “fall” or a “conquest” and felt more like an unlucky hostage caught between two worlds that offered no choice but to be Muslim or Christian.
(…)
It was, however, three years later that the Turkish state deliberately provoked what you might call ‘conquest fever’ by allowing mobs to rampage through the city, plundering the property of greeks and other minorities. A number of churches were destroyed during the riots, and a number of priests were murdered, so there are many echoes of the cruelties Western historians describe in accouns of the ‘fall’ of Constaninople. In fact, both the Turkysh and the Greek states have been guilty of treating their respective minorities as hostages of geopolitics, and that is why more Greeks hve left Istanbul over the past fifty years than in the fifty years following 1453."
PS.: o livro (nesta edição, espero que nas outras também) tem uma mais-valia enorme nas dezenas de fotografias que o acompanham, uma pequena parte sobre o jovem Pamuk e a sua família, o resto sobre o Istambul antigo - todo um catálogo a não perder.
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