segunda-feira, agosto 15, 2011

O Homem do Castelo Alto

Philip K. Dick é dos mais conhecidos autores de ficção científica. Para não ir mais longe a sua novela "Do  Androids Dream of Electronic Sheep?" serviu de base ao filme Blade Runner. E ontem por ex., revi Minority Report, do Spielberg, tb baseado numa hx de PK Dick.
Publicou em 62 este romance "The Man of The High Castle", que em 63 recebeu o Hugo Award para o melhor romance de ficção científica. Li este livro numa colecção dita de autores "que não receberam o Nobel". Uma patetice. Nem o Nobel precisou de Philip K. Dick nem este precisou do Nobel.
E de que trata este romance? Bom, é dos primeiros livros a enveredar pelo fascinante mundo da "história alternativa". Estamos em 1962. A Alemanha e o Japão ganharam a 2ª Grande Guerra e dominam o mundo. Vive-se um ambiente de guerra fria entre os dois potentados. O livro passa-se na costa oeste dos Estados Unidos, um protectorado japonês onde os japoneses ocupam os melhores bairros e os cargos mais importantes, e no Midwest, um estado-fantoche tampão, isto porque a costa leste americana está dominada pelos alemães. O homem do castelo alto é um romancista - que vive sob constante ameaça de atentado... - que se atreveu a escrever um romance onde as potências vencedoras da guerra tinham sido outras...





"CAPÍTULO VI
De  manhã cedo, desfrutando a fresca e brilhante luz do sol, Mrs. Juliana Frink foi fazer as suas compras à mercearia. Percorria o passeio, carregada com dois sacos de papel castanho, detendo-se diante de cada montra, para observar o que apresentavam. Deslocava-se com lentidão.
Não havia qualquer coisa que necessitava de levar da drogaria? Interrogou-se sobre o que seria. O seu turno no ginásio de judo. Não principiava antes do meio-dia; aquele era o seu dia de folga. Sentando-se num banco alto junto do balcão, pousou os sacos com as compras e começou a folhear diversas revistas.
A nova Life, reparou, publicava um grande artigo intitulado: "Televisão na Europa: Um Olhar Sobre o Amanhã". Procurou-o, interessada, deparando-se-lhe a fotografia de uma família alemã, a ver televisão na sua sala de estar. Segundo o artigo, já havia quatro horas diárias de emissão de imagens, transmitidas a partir de Berlim. Um dia, viria a existir emissões em todas as principais cidades europeias. E, lá para 1970, uma delas poderia ser montada em Nova Iorque."

"CAPÍTULO VII
O elegante jovem casal japonês que visitara o estabelecimento de Robert Childan, os Kasouras, telefonou-lhe perto do final da semana, pedindo-lhe que fosse jantar ao seu apartamento. Estivera à espera de receber mais notícias deles e ficou deliciado.
Fechou o American Artistics Handcrafts Inc um pouco mais cedo e tomou um peditáxi para o bairro selecto onde os Kasouras viviam. Conhecia a área, embora lá não morassem brancos.
À medida que o veículo o transportava ao longo das ruas serpenteantes, com os seus relvados e salgueiros, Childan arregalava os olhos para os modernos prédios de apartamentos e maravilha-se com a graciosidade da respectiva concepção. As varandas de ferro forjado, altaneiras ainda que modernas, os tons pastel, o uso que fora feito das diversas texturas… Tudo isso constituía uma obra de arte. Lembrava-se do tempo em que tudo aquilo não passava de montes de destroços causados pela guerra.
As criancinhas japonesas, que brincavam no exterior, observavam-no sem fazerem comentários, voltando depois ao seu futebol ou ao seu basebol. Mas, notou, não se passava o mesmo com os adultos; os bem vestidos jovens japoneses, que estacionavam os seus carros ou estavam a entrar nos prédios, reparavam nele com maior interesse. Viveria ali? Estavam talvez a interrogar-se. Jovens homens de negócios japoneses, que regressavam dos seus escritórios, até mesmo chefes de Missões Comerciais, que lá moravam. Reparou nos Cadillacs estacionados. Enquanto o peditáxi se aproximava do seu destino. Childan sentia-se cada vez mais nervoso."

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