terça-feira, agosto 31, 2010

Entrevistas da Paris Review


Esta recolha de entrevistas da Paris Review, traduzidas e escolhidas por Carlos Vaz Marques (CVM), não vale a entrevista inteira da Yourcenar, que eu linkei no que escrevi sobre "Memórias de Adriano".
Agora a sério, terá CVM  reparado que seleccionou dez entrevistas a... dez homens?
 Bom, a de Pasternak é... turística e reverencial, a de Kerouac é completa e literalmente "pastilhada", a de Saul Bellow adormece o mais acordado, a de Borges é a melhor, embora tenhamos pena de ouvir algumas opiniões que preferíamos não ouvir...
A de Hemingway tem piada...
Enfim, repito, troco tudo isto pela Yourcenar. Senhora entrevista...


(excerto da entrevista a E Hemingway)


É fácil para si passar de um plano literário para outro, ou continua até dar por terminado aquilo que começou a escrever?

O facto de eu estar a interromper um trabalho sério para responder a estas perguntas prova que sou tão estúpido que devia ser severamente castigado por isso. E hei-de ser. Esteja descansado.

Pensa em si próprio como estando em competição com outros escritores?

Nunca. Costumava tentar escrever melhor do que certos escritores já falecidos, de cujo valor eu não tinha dúvidas. Agora, há já muito tempo que tento apenas escrever o melhor que posso. Por vezes, tenho sorte e escrevo melhor do que posso.


(excerto da entrevista a JL Borges)

Usar a faca faz recuar a situação a uma forma mais antiga de comportamento?

A uma forma mais antiga, sim. É, também, uma ideia muito individual de coragem. Porque pode ser-se um bom atirador e não se ser particularmente corajoso. Mas se vai lutar com outro homem de perto e se está armado com uma faca... Lembro-me de ter visto uma vez um homem a desafiar outro para uma luta, e o outro desistiu. Mas desistiu, julgo, por causa de uma artimanha. Um já era velho, tinha uns setenta anos, e o outro era um homem jovem e vigoroso, devia ter entre vinte e cinco e trinta anos. Então o velho pediu perdão, voltou com dois punhais e um deles era um pouco mais longo do que o outro. Ele disse: aqui tem, escolha a sua arma. Portanto deu ao outro a possibilidade de escolher a arma mais longa e de ter vantagem sobre ele; mas isso também significava que ele estava tão seguro de si próprio que podia aceitar essa desvantagem. O outro desculpou-se e desistiu, claro. Lembro-me de que um homem corajoso, quando eu era um jovbem do bairro pobre, devia andar sempre com um punhal curto, e que era usado aqui. Assim - apontando para o sovaco - de modo a poder sacá-lo de imediato, e a palavra do bairro para faca - ou uma das palavras - bem, uma era fierro, mas é claro que isto não significa nada de especial. Mas um dos nomes, e este entretanto perdeu-se, é uma pena, era el vaivén, o vaivém. Na expressão "vai e vem" - faz o gesto - vemos o clarão da faca, um súbito clarão.


(excerto da entrevista com Jack Kerouac)

Então e Junky - de Burroughs - já agora?

É um clássico. É melhor do que Heminguay - é com se fosse Heminguay mas ainda um bocado melhor. Dix assim: "Danny vem até junto da minha almofada, certa noite, e diz, "Ei, Billy, posso levar o teu porrete."" O teu porrete - sabe o que é um porrete?

Uma moca?

É uma moca. Bill disse: "Puxei pela minha roupa interior e por baixo de umas belas camisas saquei da minha moca. Dei-a ao Danny e disse-lhe: "Agora não a percas, Danny" - e o Danny diz: "Não te preocupes que não a perco." Vai-se embora e perde-a." Porrete... moca... isto sou eu. Porrete... moca.

Isso é um haiku: Porrete, moca, isto sou eu. Devia escrever isso.

Não.

Talvez o escreva eu. Importa-se que eu use isso?

Na peida, senhor Almeida.

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