À Espera No Centeio / The Catcher In The Rye
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“Tinham cada qual o seu quarto e tudo. Andavam ambos pelos setenta anos, ou até mais do que isso. Mas ainda tiravam gozo das coisas, mesmo assim – de um modo meio parvo, claro. Bem sei que parece chato dizer isto, embora não seja essa a minha intenção. O que eu queria dizer é que pensava bastante no velho Spencer, e se formos a pensar bastante nele, desatamos a perguntar-nos por que raio vivia ele ainda. Quer dizer, andava todo curvado, tinha uma postura lixada, e nas aulas, sempre que deixava cair o giz, havia um tipo da primeira fila que tinha de se levantar para o ir apanhar e lho dar. É uma coisa horrorosa, na minha opinião. Mas se pensássemos nele só o suficiente e não demasiado, podíamos até achar que no fundo não se safava mal. Por exemplo, um domingo em que eu e outros tipos estávamos em casa dele a tomar um chocolate quente, ele mostrou-nos um velho cobertor navajo esfiapado que ele e a mulher tinham comprado a um índio qualquer de Yellowstone Park. Via-se bem que o velho Spencer tinha tido imenso gozo a comprar aquilo. É isso que eu queria dizer. Pega-se em alguém velho como o caraças, como o velho Spencer, e o comprar um cobertor já lhe dá um gozo enorme.”
“Quando aquilo do Natal acabou, começou a merda do filme. Era tão merdoso que não consegui tirar os olhos dele. Era sobre um gajo inglês, Alec qualquer coisa, que estava na guerra e perde a memória no hospital e assim. Sai do hospital de bengala e a coxear por tudo quanto é sítio, por toda a cidade de Londres, sem saber quem raio é ele. A verdade é que é um duque, mas ele não o sabe. E então encontra aquela miúda simpática, boazinha, sincera, que vai a entrar no autocarro. A merda do chapéu voa-lhe da cabeça e ele apanha-o, e então sobem os dois para a parte de cima, sentam-se e começam a conversar sobre Charles Dickens. É o autor favorito dos dois e tudo. Ele traz no bolso um exemplar do Oliver Twist e ela a mesma coisa. Fiquei capaz de vomitar.”
O título do livro explica-se com esta citação no inglês original (e também lendo o livro...):
“Anyway, I keep picturing all these little kids playing some game in this big field of rye and all. Thousands of little kids, and nobody's around - nobody big, I mean - except me. And I'm standing on the edge of some crazy cliff. What I have to do, I have to catch everybody if they start to go over the cliff - I mean if they're running and they don't look where they're going I have to come out from somewhere and catch them. That's all I do all day. I'd just be the catcher in the rye and all. I know it's crazy, but that's the only thing I'd really like to be.”
1 Comentário(s):
A tradução do título parece me bas tante inadequada. Li o original no meu tempo de estudante.
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