quarta-feira, agosto 25, 2010

À Espera No Centeio / The Catcher In The Rye

“The Catcher In The Rye”, traduzido para português como “À Espera No Centeio”, é O Livro de J.D.Salinger, e é também um dos livros que definiram determinadas trajectórias das letras e do viver americano do pós-guerra. Foi dos livros ao mesmo tempo mais proibidos e mais estudados nas Universidades americanas desde a sua publicação. Salinger tornou-se uma figura cada vez mais estranha e reclusiva, e na realidade não publicou muita mais coisa, embora tenha de seu também dos melhores contos escritos em inglês, segundo muitos. “À Espera No Centeio” é um livro sobre um rapaz que está crescer, que foge do colégio, que fuma e que bebe e que contrata os serviços de uma prostituta e anda à pancada, mas que na realidade acaba por não fazer asneira nenhuma e que de quem afinal gosta mais é da sua irmã mais nova. “À Espera No Centeio” conta o seu extraviado caminho até, mais ou menos, voltar a casa. Não há adultos grande coisa neste livro, há apenas alguns mais ou menos. Há uma tragédia oculta e uma sombra presente. A escrita de Salinger é coloquial, entrecortada, usa a 1ª pessoa, pois é o rapaz que conta o que aconteceu, embora ele até nem quisesse muito. O calão abunda e variados coloquialismos adivinham-se, donde certamente esta foi uma tradução difícil. Este é o livro que criou o paradigma das “growing pains of adolescence”. Ainda estará por escrever um melhor, talvez. É hoje um clássico. É um livro muito bom.

“Tinham cada qual o seu quarto e tudo. Andavam ambos pelos setenta anos, ou até mais do que isso. Mas ainda tiravam gozo das coisas, mesmo assim – de um modo meio parvo, claro. Bem sei que parece chato dizer isto, embora não seja essa a minha intenção. O que eu queria dizer é que pensava bastante no velho Spencer, e se formos a pensar bastante nele, desatamos a perguntar-nos por que raio vivia ele ainda. Quer dizer, andava todo curvado, tinha uma postura lixada, e nas aulas, sempre que deixava cair o giz, havia um tipo da primeira fila que tinha de se levantar para o ir apanhar e lho dar. É uma coisa horrorosa, na minha opinião. Mas se pensássemos nele só o suficiente e não demasiado, podíamos até achar que no fundo não se safava mal. Por exemplo, um domingo em que eu e outros tipos estávamos em casa dele a tomar um chocolate quente, ele mostrou-nos um velho cobertor navajo esfiapado que ele e a mulher tinham comprado a um índio qualquer de Yellowstone Park. Via-se bem que o velho Spencer tinha tido imenso gozo a comprar aquilo. É isso que eu queria dizer. Pega-se em alguém velho como o caraças, como o velho Spencer, e o comprar um cobertor já lhe dá um gozo enorme.”

“Quando aquilo do Natal acabou, começou a merda do filme. Era tão merdoso que não consegui tirar os olhos dele. Era sobre um gajo inglês, Alec qualquer coisa, que estava na guerra e perde a memória no hospital e assim. Sai do hospital de bengala e a coxear por tudo quanto é sítio, por toda a cidade de Londres, sem saber quem raio é ele. A verdade é que é um duque, mas ele não o sabe. E então encontra aquela miúda simpática, boazinha, sincera, que vai a entrar no autocarro. A merda do chapéu voa-lhe da cabeça e ele apanha-o, e então sobem os dois para a parte de cima, sentam-se e começam a conversar sobre Charles Dickens. É o autor favorito dos dois e tudo. Ele traz no bolso um exemplar do Oliver Twist e ela a mesma coisa. Fiquei capaz de vomitar.”
O título do livro explica-se com esta citação no inglês original (e também lendo o livro...):

“Anyway, I keep picturing all these little kids playing some game in this big field of rye and all. Thousands of little kids, and nobody's around - nobody big, I mean - except me. And I'm standing on the edge of some crazy cliff. What I have to do, I have to catch everybody if they start to go over the cliff - I mean if they're running and they don't look where they're going I have to come out from somewhere and catch them. That's all I do all day. I'd just be the catcher in the rye and all. I know it's crazy, but that's the only thing I'd really like to be.”

1 Comentário(s):

Blogger Unknown disse...

A tradução do título parece me bas tante inadequada. Li o original no meu tempo de estudante.

11:46 da manhã  

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