Mulheres Que Escrevem Vivem Perigosamente
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Curiosamente, em Portugal existem muitas mulheres escritoras actualmente, aliás talvez mais do que homens, não? Pelo menos no que à prosa diz respeito. A pouca memória pode assim levar-nos a menorizar a mensagem deste livro que, por ser quase tão bonito à vista quanto o seu irmão mais velho - embora sem as reproduções dos quadros nem tantas fotografias de qualidade, destas não está mal servido - pode, como ele, servir apenas para decorar estante, sem que haja leitura de texto.
Textos, são dois textos para serem lidos. Primeiro o prefácio de Elke Heidenreich. E depois uma relativamente longa introdução do autor.
Pretende-se confirmar o que o título do livro propõe como verdade. Socorrem-se dos exemplos habituais - George Sand, Sylvia Plath, etc.
Mas não era preciso. Os dois textos ganham-nos amplamente para a causa. Embora haja na selecção de escritoras - e, no geral, que escritoras, monstros! - algum que outro caso onde o perigo foi mais opção e via tomada do que dificuldade aplicada à mulher que queria escrever.
"Que se passa afinal? Que leva certas mulheres, por sinal as mais inteligentes, cirativas e dotadas, a desesperar-se com a vida ao ponto de deixarem de a suportar? É evidente que o que dá asas aos homens e lhes permite voar - viver um amor e, em simultâneo, afirmar-se do ponto de vista artístico - destrói as mulheres. Acresce a isto algo muito simples, absolutamente intolerável: as mulheres governam o quotidiano dos homens, proporcionando-lhes as condições que lhes permitem escrever (ou fazer qualquer outra coisa, seja lá o que for). E quem governa o dia-a-dia delas? Ninguém tem pejo em as qualificar de musas inspiradoras dos homens, mas quem são, onde estão, as musas inspiradoras das mulheres? A mulher tem de ser a musa de si própria."
Elke Heidenreich
"A noção de que homens e mulheres pertencem a ordens naturais distintas e de que a mistura dos dois sexos representa uma ameaça para ambos atravessou, inabalável, toda a época vitoriana, persistindo até ao século XX e continuando a repercutir-se nos nossos dias. Encontramo-la, or exemplo, no grande despertar corporizado pela Beat Generation ao propagar a busca de uma vida mais intensa, em flagrante contraste com os conceitos de sedentariedade burguesa e trabalho regulamentado. No célebre romance de Jack Kerouac, datado de 1957, Pela Estrada Fora, só havia homens, e todos novos. A escritora Joyce Johnson, companheira de Kerouac na juventude, propôs-se acompanhá-lo na viagem, pois nada, em sua opinião, a impedia de o fazer. No entanto, sempre que o assunto vinha à baila - recordou passados trinta anos -, ele interrompia-a dizendo que o que ela queria, de facto, era filhos, como aliás toda a mulher."
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