Mulheres Que Escrevem Vivem Perigosamente
Stefan Bollmann decidiu após o êxito editorial de "Mulheres Que Lêem São Perigosas" avançar para este livro, intitulado como acima podem ler.
Curiosamente, em Portugal existem muitas mulheres escritoras actualmente, aliás talvez mais do que homens, não? Pelo menos no que à prosa diz respeito. A pouca memória pode assim levar-nos a menorizar a mensagem deste livro que, por ser quase tão bonito à vista quanto o seu irmão mais velho - embora sem as reproduções dos quadros nem tantas fotografias de qualidade, destas não está mal servido - pode, como ele, servir apenas para decorar estante, sem que haja leitura de texto.
Textos, são dois textos para serem lidos. Primeiro o prefácio de Elke Heidenreich. E depois uma relativamente longa introdução do autor.
Pretende-se confirmar o que o título do livro propõe como verdade. Socorrem-se dos exemplos habituais - George Sand, Sylvia Plath, etc.
Mas não era preciso. Os dois textos ganham-nos amplamente para a causa. Embora haja na selecção de escritoras - e, no geral, que escritoras, monstros! - algum que outro caso onde o perigo foi mais opção e via tomada do que dificuldade aplicada à mulher que queria escrever.
"Que se passa afinal? Que leva certas mulheres, por sinal as mais inteligentes, cirativas e dotadas, a desesperar-se com a vida ao ponto de deixarem de a suportar? É evidente que o que dá asas aos homens e lhes permite voar - viver um amor e, em simultâneo, afirmar-se do ponto de vista artístico - destrói as mulheres. Acresce a isto algo muito simples, absolutamente intolerável: as mulheres governam o quotidiano dos homens, proporcionando-lhes as condições que lhes permitem escrever (ou fazer qualquer outra coisa, seja lá o que for). E quem governa o dia-a-dia delas? Ninguém tem pejo em as qualificar de musas inspiradoras dos homens, mas quem são, onde estão, as musas inspiradoras das mulheres? A mulher tem de ser a musa de si própria."
Elke Heidenreich
"A noção de que homens e mulheres pertencem a ordens naturais distintas e de que a mistura dos dois sexos representa uma ameaça para ambos atravessou, inabalável, toda a época vitoriana, persistindo até ao século XX e continuando a repercutir-se nos nossos dias. Encontramo-la, or exemplo, no grande despertar corporizado pela Beat Generation ao propagar a busca de uma vida mais intensa, em flagrante contraste com os conceitos de sedentariedade burguesa e trabalho regulamentado. No célebre romance de Jack Kerouac, datado de 1957, Pela Estrada Fora, só havia homens, e todos novos. A escritora Joyce Johnson, companheira de Kerouac na juventude, propôs-se acompanhá-lo na viagem, pois nada, em sua opinião, a impedia de o fazer. No entanto, sempre que o assunto vinha à baila - recordou passados trinta anos -, ele interrompia-a dizendo que o que ela queria, de facto, era filhos, como aliás toda a mulher."
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