sábado, dezembro 25, 2010

Se As Coisas Não Fossem O Que São

Helder Moura Pereira (HMP) continua a publicar poesia com a quase regularidade de um relógio suíço, e a melopeia dos seus poemas, que me adormecem ou despertam suavemente há décadas, mais seu doce veneno, também. A poesia de HMP trata sempre e apenas de nós, como dormimos ou não conseguimos dormir, como amamos ou deixámos de amar, com pedimos amor e ele pode ou não vir. Quando falo de melopeia adquiro a agradável monotonia dos últimos livros do autor, onde a invenção não existe, hoje por hoje. Prefiro porém esta poesia assumidamente leve, triste, consciente da idade e dos enganos, a muito do que para aí se publica como sendo a "brilhante nova poesia portuguesa", mistura de más vísceras com má feitura, simplesmente horrível.
HMP  envelhece em verso, e eu envelheço com ele, leva uns anos de avanço o escritor, o leitor que eu sou, quase desde sempre, considera este lento declinar admirável.



"Enquanto um grupo de gente toma conta
do país e ouve as nossas conversas,
dos teus olhos vai caindo a baça luz
indicadora do tempo a passar.

Já não me lembro do que foste para mim.
Termómetro regulador do perdido,
oásis malignos das ilusões?
As minhas mãos já nem reagem.

É vulgar, não é coisa de monta -
precisam de alimento as mentes perversas,
enterrámos a cabeça na areia como a avestruz
e agora já não há volta a dar.

Sinto-me pior do que na Tanzânia um pinguim,
de robe azul clarinho, combalido.
Escrever vai ser só para quem tem coragem,
o amor será a última das preocupações."

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