sexta-feira, abril 08, 2011

Demasiada Felicidad

Alice Munro, a escritora canadiana, a quem eu já dediquei vária atenção através de outros livros seus, voltou a prender-me num mar de contos que apareceram em colectânea editados no país vizinho, sob o curioso título de "Demasiada Felicidad".
Para além deste título ser todo um desafio, o texto que dá título à colectânea refere-se a uma mulher que efectivamente existiu, a matemática russa Sofia Kovalevski, mulher que viveu uma vida - trágica? - nos meados do século XIX, quando ainda mal se supunha que as mulheres soubessem fazer uma que outra conta de somar.
Os contos de Alice Munro fazem sobretudo isso: contar. As vidas que aparecem são habitualmente normais, correntes, nunca tórridas, raramente horripilantes. O texto enuncia o tempo a fluir e os mais simples eventos que possamos imaginar. E aqui, ali, a lemon twist, um toque de abismo, um aceno para o vórtice do espanto que é vivermos e não incorrermos voluntariamente em permanente risco de suicídio.
Nem todos estes contos me pareceram bem sucedidos. A partida é ganha no final pelo mais longo texto, o que mais extensamente leva os princípios desta narrativa até ao fim. "Demasiada Felicidad" é sessenta páginas de excepção.

"El domingo estaba peor. Apenas podía hablar, pero se empeñó en ver a Fufu con el vestido que se iba a poner para la fiesta infantil.
Era un traje de gitana, y Fufu bailó con él alrededor de la cama de su madre.

El lunes Sofia le pidió a Teresa Gulden que cuidara de Fufu.
Aquella noche se sintió mejor y fue una enfermera que se quedó para que Teresa y Ellen descansaran.
De madrugada se despertó. Despertaron a Teresa y Ellen, que levantaron a Fufu de la cama para que pudiera ver a su madre viva una vez más. Sofia pudo hablar un poco.
Teresa creyó oír que decía: "Deamsiada felicidad".

Murió alrededor de las cuatro. La autopsia demostró que la neumonia le había destrozado por completo los pulmones y que el corazón presentaba una dolencia que arrastraba desde hacía varios años. Como todo el mundo se esperaba, el cerebro tenía un gran tamaño."

Magistral.

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